quinta-feira, 2 de julho de 2009

Uma mancha de sangue (ou vinho?)


"Antes do último gole, querido, eu preciso lhe contar alguns segredos. Segredos? Não. Quero lhe confessar alguns pecados, lágrimas e pecados. Quero lhe falar sobre todo o amor que por você senti, o qual, infelizmente, não tive coragem de demonstrar. Saiba que, nas vezes em que me tranquei em nosso quarto, eu simplesmente chorei, e chorei mesmo, em frente ao espelho e feito uma criança desenganada. E, sempre após todo esse ritual, eu procurei em meu rosto uma marca qualquer a qual pudesse fazer você pensar exatamente o contrário do que aconteceu (sempre deu certo)... Por favor, entenda que o melhor sofrimento é aquele que se faz calado.

Olhando, agora, o cálice vazio sinto vazio também o meu coração selvagem. Como pude trocar você por uma utopia? Se fosse por dinheiro, uma fazenda, por um casamento bem arranjado... Mas o troquei por um sonho! Quão inútil! E agora, derradeiramente, lembro da promessa feita naquele trem, 'a última gota de vinho simbolizaria a última gota do meu sangue'. E feito isso, eu mesma deveria me encarregar de pôr fim a esse martírio. Uma dúvida, porém, ainda me amola: como o fazer?

Insisto em dizer que amei você. Tal repetição ajuda a explicar que ainda não encontrei a maneira certa para me matar. Já pensei em veneno (veneno no vinho), ou cortar os meus pulsos, um sangue bordô. Tiro? Faca? Não há como, esconderam tudo de mim, tiraram-me as fontes de vida (você), tiraram-me as fontes de morte. Tudo bem, confesso que o perdi por conta própria mas qual mal em se ter uma faca à mão quando desejada é? Somente me resta esse cálice vazio...


Vou traí-lo novamente, querido. Eu sei que essa taça nos era sagrada. Entretanto, penso eu, as promessas de um momento errado são mais importantes que a felicidade do concreto. 'Boba'. 'Sou assim'. A barra desse cálice é quase que perfeita. Você é perfeito, eu não. E que tudo o que eu nunca lhe disse fique traduzido nesse simples gesto: você, perfeito, gravado em meu coração.


Eu sempre amei você, mesmo."



O mais engraçado é que não havia manchas de vinho no papel da carta. Somente de sangue (e não somente humano).

Sobre o corpo, pousou uma pomba. Branca. Sem manchas na asa. E quando levantou vôo... Ainda estava alva.

O vento não conseguiu fazer com que a carta voasse. Esta permaneceu estática. Imprópria. Ninguém sabe se a pessoa, para quem foi escrita, teve a pureza de lê-la.

6 comentários:

André Galvão disse...

Jam, que maravilha teu blog! Ainda não o conhecia, mas a partir de agora já faz parte dos meus Favoritos. Parabéns pelos textos. Beijos!

Kamilinha :) disse...

adorei seu blog, escreves muito bem, vou seguir aqui, espero que faça o mesmo comigo se possivel.

@anwdeby disse...

Olha quem fala *o* Seus textos são demais, Mile *-*

ficou um luxooooooo aqui :D

disse...

AAAAH,deixa eu roubar seu dom pra mim?^*--*

Carol F. disse...

jaaam desfolguei do blog *-* AIOSAIOHSOI vou postar logo mais, quando voltar a escrever sempre. andei tão desligada que só vendo.. IOASSHHOI e nossa, brigada pelos comentários e owwwn morr *-* brigada por ler o amorbipolar e pá, que bom que gostou *-* não preciso falar nada, fiquei fora esse tempo e seu blog ficou ainda mais bonito t.t vou ver o selinho, mas desde já obrigada, não só por isso, por tudo, sempre estar pelo meu também e tal *-* beeijo :*

Rafael Sperling disse...

Nossa, muito bonito o seu texto, Jamile!
Escreves muito bem mesmo.
Bjs